Publicada em 27/10/2016
“Plano de gestão integrada é uma grande iniciativa da Baixada Santista”, destaca pesquisadora do IPT
“A elaboração de um plano regional é uma exigência legal,
está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, e é uma grande
iniciativa da Baixada Santista buscar uma solução integrada, consorciada entre
os nove municípios da região”, afirmou Cláudia Echevenguá Teixeira,
pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Após participar da reunião do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana
da Baixada Santista (Condesb), nesta terça-feira, 25, quando foi assinado o
convênio entre o IPT e a Agência Metropolitana (Agem), para a elaboração do
Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Baixada Santista, a
pesquisadora conversou com a imprensa.
Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista:
O Plano de Gestão
A elaboração de um plano regional é uma exigência legal, está prevista na
Política Nacional de Resíduos Sólidos, e é uma grande iniciativa da Baixada
Santista buscar uma solução integrada, consorciada entre os nove municípios da
região. A Agem, que é responsável por esse contrato, tomou recursos junto ao
Fehidro.
É um estudo um pouco longo, porque existe vários momentos técnicos que precisam
ser enfrentados e desenvolvidos, partindo de um diagnóstico, pois a gente
precisa entender direitinho a geração dos resíduos, como está hoje a gestão, a
coleta, transporte, a maneira como as pessoas estão separando nas casas,
composição desse resíduo… então, há levantamento de dados técnicos extremamente
importantes que precisam ser resolvidos. Lá no IPT a gente tem infraestrutura
laboratorial e de técnicos especializados para poder fazer esses levantamentos
que precisam estar compatíveis com a realidade. Não podemos trabalhar apenas só
com dados teóricos.
Depois deste diagnóstico, a gente precisa fazer uma avaliação de escolha de
área, para ver quais são as possíveis alternativas tecnológicas para os
resíduos sólidos. Hoje, praticamente 98% dos resíduos aqui da Baixada Santista
estão indo para aterro sanitário, então a gente está tentando criar, de uma
certa forma, alternativas que aumentem a reciclagem, o aproveitamento, evitando
a disposição final. É um grande desafio.
Matéria-prima
Os resíduos sólidos são uma fonte de matéria-prima e de energia. Agora, para
isso, a gente precisa de tecnologias para poder transformar, sem esquecer que
metade, ainda, dos nossos resíduos é constituída de restos de alimentos, então,
a gente tem aí que fazer um processo de transformação biológica para diminuir
seu impacto ambiental.
A questão dos resíduos sólidos
Não é um problema fácil de resolver, mas é importante envolver a sociedade como
um todo, as empresas que já atuam no setor. Precisa ser uma tomada de decisão
compartilhada com todos os entes envolvidos nesse problema, inclusive nós
geradores de lixo.
Existe orientação legal no sentido de a gente ter toda uma
escalada de prioridades, que envolve a não geração, a minimização, a
reciclagem… Então hoje já tem uma estrutura envolvida na questão dos resíduos,
como as cooperativas de catadores e outras empresas atuando. A iniciativa toda
vai fomentar uma valorização maior na questão dos resíduos; que a gente possa
dar uma orientação maior, no sentido de agregar valor para a iniciativa privada
e os processos produtivos.
Mas, obviamente, vai precisar de um período de transição, porque hoje, só para
vocês terem uma ideia, cada um de nós gera em torno de 1 kg de lixo por dia –
na Baixada passa são quase 2 mil toneladas/dia. Então, não tem mágica, a gente
vai ter que encontrar soluções intermediárias, até ter uma solução mais
definitiva. Há um entendimento técnico de que este sistema que a gente precisa
montar envolve a geração, o transportes, o manejo, algumas alternativas
tecnológicas, tanto para o material orgânico quanto para o reciclável, e até
chegar, talvez, ao aproveitamento energético desses resíduos, o que tem gerado
muita discussão.
É importante a gente encontrar alternativas tecnológicas que resolvam da melhor
forma possível. É um grande desafio, mas acho que a gente tem aqui uma boa
vontade política e social e essa região é belíssima, no litoral, com área de
preservação, e há boas condições de encontrar soluções para esse problema.
Projeto piloto em Bertioga
Na verdade, o projeto ainda não terminou. Foi um chamamento feito pelo
vice-governador Márcio França (também secretário de Desenvolvimento Econômico,
Ciência Tecnologia e Inovação), dizendo o seguinte: o IPT desenvolve tecnologia
e precisa trabalhar, também, com tecnologias de cunho social. E a questão de
resíduos não deixa de ser um problema de toda a sociedade. Então, é um projeto
em que a gente está estudando alternativas tecnológicas – o IPT tem um conceito
que chamamos de isenção tecnológica, em que todas as alternativas possíveis vão
ser testadas e nós estamos analisado rotas biológicas e térmicas, também, para
poder encontrar qual a melhor solução.
E também a gente tem desenvolvido em Bertioga o trabalho desde a separação dos
resíduos, juntamente com a cooperativa, tentando maximizar algumas tecnologias
para este fim. Estamos criando toda uma estrutura técnica, com laboratório,
ensaio, para ter informações e encontrar a melhor alternativa.
Esse projeto que estamos desenvolvendo em Bertioga será, de certa forma, um
embrião de prognóstico, no sentido de criarmos esses parâmetros, essas
referências que vão nos auxiliar na criação de referências para Plano Regional
de Gestão de Resíduos Sólidos da Baixada Santista.
A gente está avaliando alternativas, por meio das quais pretendemos encontrar
uma solução para a Baixada Santista inteira. Para exemplificar: a gente está
tentando instalar em escala piloto – pegamos uma parte do município de Bertioga
– algumas tecnologias para melhorar a separação dos resíduos, que hoje é
praticamente só a esteira de catação, para poder dar um pouco mais de
velocidade no processo; estamos estudando uma rota biológica, que é a
biodigestão anaeróbica, que tem um conceito chamado de túnel de mecanização,
porque hoje, ter energia renováveis a partir do lixo também é interessante; e
estamos analisando algumas alternativas de rotas térmicas, além de alguns
ensaios em termos de incineração, para avaliar se isso tem algum potencial de
fato, na região.
De qualquer forma, a gente está trabalhando para encontrar alternativas que
sejam compatíveis com a nossa realidade, com a premissa de poder reciclar os
materiais, poder diminuir a quantidade de lixo que vai para os aterros e, se
possível, agregar valor na geração de energia. Esse tem sido o pano de fundo
técnico do projeto em Bertioga.